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Inflação: Vale Mais um Euro Hoje, do que um Euro Amanhã!

Por definição, a inflação é o termo económico que quantifica o aumento no nível geral de preços de bens e serviços. Quanto mais alta é a inflação, mais diminui o valor do dinheiro, porque um determinado montante vai comprar menos bens e serviços do que antes.

A inflação numa economia é calculada através da análise de uma cabaz de bens e serviços e da comparação das alterações nos preços dos bens que compõem esse cabaz ao longo do tempo, traduzida numa variação percentual do índice de preços durante um determinado período relativamente ao registado num período anterior. Quando o preço do cabaz completo num determinado mês é comparado com o seu preço no mesmo mês um ano antes, a essa variação chama-se inflação homóloga.

Assistiu-se, desde Junho de 2021, a uma escalada da taxa de inflação em Portugal e na zona euro, principalmente devido à subida dos preços da energia, ainda que, nas últimas semanas, essa tendência de crescimento tenha vindo a desacelerar, pese embora se tenha assistido a uma ligeira subida no último mês. De acordo com os últimos dados disponibilizados pelo Eurostat, a taxa de inflação anual da zona euro subiu ligeiramente para os 7,0% em abril, após um período de pequenos recuos consecutivos.

Em Portugal, a inflação anual, medida pelo Índice Harmonizado de Preços ao Consumidor (IPHC), foi de 6,9%, em baixa face aos 8,0% de março e aos 7,4% de abril de 2022. De acordo com a estimativa do serviço estatístico da União Europeia, a taxa de inflação anual avançou de 6,9% em março para os 7,0% em abril, mantendo-se, no entanto, aquém dos 7,4% do mesmo mês de 2022.

Se este cenário é já de si adverso, para a generalidade das famílias o cenário é ainda mais difícil, uma vez que, dos bens que compõe o cabaz que serve de base ao cálculo da inflação, aqueles que apresentam uma maior taxa de inflação são os bens relativos ao setor da alimentação que atingiram uma taxa de 13,6%, diminuindo, em larga escala, o rendimento disponível das famílias.

Se olharmos atentamente para a evolução da inflação desde que Portugal aderiu à CEE em 1986, verifica-se que o ano de 2022 se traduziu num aumento brutal do custo de vida, conforme quadro seguinte.

Numa análise mais detalhada, conclui-se que os “produtos alimentares e bebidas não alcoólicas” apresentam uma taxa de inflação de 13% e os bens associados à “habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis” uma taxa de 12.8%. Ou seja, os bens considerados de primeira necessidade
ou equivalentes (aqueles cujo consumo é indispensável, sendo apenas possível reduzi-lo) foram aqueles cujos preços mais subiram.

Esta realidade implica um acentuar das desigualdades entre ricos e pobres, uma vez que as famílias com baixo rendimento, para além de terem pouca capacidade para igualar o crescimento dos seus rendimentos à taxa de inflação, não dispõem de poupanças para fazer face ao aumento do custo do seu consumo ao longo do tempo, mais a mais porque é na população mais pobre, ou de mais baixo rendimento, que os gastos com bens alimentares e energia representam um maior peso no consumo total.

Em Portugal, as despesas com alimentação e energia representam cerca de 28% do consumo das famílias mais pobres (20% de famílias com menores rendimentos), enquanto nas famílias mais ricas (20% de famílias com maiores rendimentos), esse valor é de apenas 17%, pelo que a elevada taxa de inflação a que estamos a assistir atualmente impacta de forma mais vincada numa família de baixo rendimento em Portugal (e na zona euro) do que uma família de elevado rendimento, aumentando as assimetrias sociais que, já de si, são bastante acentuadas.

Estatisticamente, de acordo com os cálculos dos economistas do BCE, um aumento de 10% nos custos dos bens básicos que não seja compensado por um aumento do rendimento, reduz o poder de compra em mais de 20% para as famílias de rendimentos mais baixos, em comparação com 5% para as famílias de rendimentos médios.

Neste cenário, demonstra-se claramente que a inflação tende a gerar mais pobreza, daí que os países menos desenvolvidos sejam aqueles que apresentam taxas de inflação por vezes galopantes, em que é difícil aferir a fronteira entre causa e consequência, pelo que, em economia, uma das regras irrefutáveis é de que vale mais um euro hoje do que um euro amanhã!