O mundo do trabalho tem vindo a sofrer alterações não só económicas como estruturais. A forma como as novas gerações encaram a vida profissional tem vindo a alterar-se, dando preferência a um equilíbrio entre vida pessoal e laboral.

Assim, mais do que as condições financeiras, na hora de escolher uma profissão ou local de trabalho, os jovens qualificados ponderam as condições de vida, uma balança entre o necessário para uma vida profissional e económica estável e uma vida familiar e de lazer que lhes permita sentir bem-estar.

Nesse sentido, as empresas deparam-se com obstáculos que até então não existiam. Condições de trabalho que vão para lá dos salários e que passam por horários flexíveis ou com mais disponibilidade para a vida familiar, bem como benefícios que compensem e estabilizem setores da vida, como a saúde, a proteção e acompanhamento dos filhos, entre outros aspetos.

Surgem, assim, de forma a apoiar as empresas a acompanhar as necessidades dos colaboradores, medidas que através do Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas – CIRC podem contribuir para um equilíbrio entre trabalhador e empregador.

Podemos dizer que não existe uma definição exata para as «realizações de utilidade social», isto é, benefícios que as empresas possam dar aos colaboradores, tendo retenção nos seus impostos, no entanto, e de uma forma genérica, podemos dizer que são um conjunto de benefícios de natureza social que as empresas proporcionam aos seus trabalhadores (dependentes), aos “seus” reformados e aos respetivos familiares.

Há, já, várias empresas que implementam estas medidas e mostram resultados positivos no dia a dia. É o caso da CRIUS Consulting”, empresa de consultoria sediada em Marco de Canaveses, com atuação em todo o país.

Perante uma oportunidade para projeto piloto de semanas de quatro dias, os administradores Sofia Cardoso e Miguel Carneiro, resolveram entrar no período experimental e o resultado revelou-se como uma das iniciativas mais transformadoras, tanto a nível individual como organizacional.

“A decisão de implementar estas medidas surgiu no início de 2023, após uma análise cuidada, a equipa de gestão decidiu avançar com a medida em conjugação com outros benefícios, como forma de garantir um impacto positivo tanto na dinâmica interna da empresa como no alívio financeiro dos colaboradores. Este processo foi implementado de forma gradual, iniciando-se com um período experimental de seis meses, no qual se ajustaram processos operacionais e se mediram os efeitos nas equipas e na produtividade. Os resultados desse teste foram extremamente positivos, permitindo à empresa adotar a política de forma permanente.”

Para os administradores e perante os resultados não houve dúvidas em manter a dinâmica, uma vez que os colaboradores expressaram “uma melhoria significativa no bem-estar físico e mental nos primeiros meses de funcionamento deste modelo. Relataram uma clara diminuição dos níveis de stress, potenciando uma recuperação emocional mais eficaz e uma gestão de tempo mais equilibrada, tanto no trabalho como na vida pessoal. Esta mudança permitiu também uma maior satisfação global e ajudou a prevenir o burnout, um risco comum em setores de alta exigência como o da consultoria.”

A esta medida implementada, outras foram pensadas e ajustadas à equipa e os resultados de produtividade têm sido claros: mais comprometimento e espírito de equipa entre todos.

“Paralelamente, outros benefícios complementares reforçaram o impacto positivo da semana de quatro dias. O aumento do subsídio de alimentação para 9,60€ e a introdução do Cartão Coverflex, que oferece acesso a descontos em diversas áreas essenciais como saúde, alimentação e lazer, proporcionaram um alívio significativo face ao aumento do custo de vida. Estes benefícios, ao melhorar o poder de compra dos colaboradores, permitiram-lhes concentrar-se mais nas suas funções, sem as preocupações financeiras imediatas que muitas vezes afetam o desempenho. Temos também o voucher da lavandaria para os nossos colaboradores, possibilitando que estes deixem de estar algumas horas a fazer uma tarefa que normalmente não gostam e não tinham tempo, e que passam a ter tempo para fazer atividades que gostam”, explicam os gestores que indicam que “a produtividade global da empresa aumentou 15%, resultado de uma melhor gestão do tempo de trabalho e da priorização de tarefas essenciais”.

Os resultados são unanimes quando as empresas assim as aplicam. Outro dos exemplos na região é a empresa Dispnal, com mais de duas décadas, dedicada à venda de pneus, jantes de camião e câmaras-de-ar.

Com a evolução da própria empresa e número de trabalhadores a crescer, os gestores da empresa perceberam a necessidade de se atribuírem benefícios para reterem os profissionais.

Já nos anos 2000, e através da informação disponibilizada pela contabilidade e revisores oficiais de contas, tomaram conhecimento das medidas fiscais que apoiavam na atribuição dos benefícios aos trabalhadores.

Dessa forma, identificaram junto dos trabalhadores as possíveis necessidades e que se enquadravam nas medidas fiscais e implementaram a “oferta de Seguro de Saúde, cursos e workshops para desenvolvimento profissional bem como outros sistemas de prémios e incentivos para valorizar o desempenho”.

Para Rute Chorado, da administração da empresa, estas medidas tiveram logo resultados, uma vez que “os colabodores se sentiram valorizados, aumentaram a produtividade e identificaram-se com os valores da empresa. Sentimos um ambiente mais positivo e colaborativo, colaboradores mais satisfeitos e empenhados e uma melhor relação em trabalho de equipa”.

Uma aposta ganha e que até aos dias de hoje tem sido reconhecida pelos trabalhadores, havendo um maior comprometimento entre todos.

Uma clara evidência que a implementação das Realizações de Utilidade Social são uma aposta vencedora nas empresas que as aplicam, com resultados positivos no ambiente laboral e que justifica o investimento dos empresários na equipa.