Input do Setor Social

Associação para o Desenvolvimento da Portela

Associação Para o Desenvolvimento da Portela Depende de Um Sonho para Ter Futuro

As Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) estão numa luta de sobrevivência há muitos anos, não fossem elas fruto de muita solidariedade e voluntariado, mas também devido às consequências geradas pela pandemia da COVID-19 que fechou algumas, mesmo tendo de manter os salários dos seus funcionários, como agora com as dificuldades de gestão financeira devido ao impacto da inflação em todas as despesas fixas, sejam elas de alimentação, combustíveis ou ordenados que são os pilares que mais pesam na contabilidade das instituições.

No município de Penafiel, as IPSS não vivem outra realidade e algumas estão a passar por momentos muito frágeis no que toca ao orçamento financeiro para cada ano que passa.

Os seniores a quem, na sua maioria, dão apoio possuem baixas pensões que, na hora de pagar às instituições podem não chegar para a mensalidade.

Estivemos na Associação para o Desenvolvimento da Portela, na freguesia de Termas de S. Vicente, e as dificuldades saltam aos olhos de todos os que gerem a instituição.

Sandra Pereira, presidente da associação teme não conseguir cumprir com as obrigações caso não haja apoios diretos, nomeadamente, com o novo projeto “Um Sonho” que implica abrir uma nova resposta social e que poderá ter apoio da Segurança Social. “Sem conseguirmos os acordos com a segurança social, temo que não consigamos dar seguimento a esta instituição e por isso apoiar os 21 utentes diários no projeto de centro de dia, bem como 8 idosos com apoio na alimentação”.

Embora o apoio camarário chegue, à semelhança das outras IPSS do concelho, a verdade é que esta instituição não possui no momento protocolo com a segurança social e por isso sobrevive através das mensalidades dos utentes e angariação de fundos que os funcionários fazem “a toda a hora” para poder fazer face às despesas diárias.

A Associação para o Desenvolvimento da Portela tem, ainda, a seu cargo a confeção das refeições do Centro Escolar da Portela, um dos fundos de maneio para entrada de dinheiro, fruto de uma parceria com a Junta de Freguesia das Termas de S.Vicente “Até ao ano 2022, este serviço que prestamos ajudava no acerto de contas, atualmente, com a subida da inflação e o preço do cabaz alimentar altíssimo, não conseguimos tirar grandes lucros para gerir toda a instituição”, confirma a presidente da instituição.

Diana Barbosa, diretora técnica da IPSS, garante estar com muitas dificuldades em gerir o stress e preocupação dos utentes, que nos corredores comentam que as reformas começam a não chegar para todas as despesas.

“Nesta instituição não deixamos que nenhum utente passe fome ou que não possa ter a medicação regularizada, todos juntos ajudamos e ninguém fica sem o essencial. No entanto, começa a ser difícil ter esperança no futuro”, confessa a diretora técnica.

“Um Sonho” é projeto que a associação tem para poder conseguir meios para ampliar o atual edifício, dando resposta de Centro de Dia (terceira idade) e CACI – Centro de Atividades e Capacitação para a Inclusão (área da deficiência), área com muita procura e pouca oferta no concelho de Penafiel.

A instituição já tentou de várias formas conseguir o financiamento público para realizar as ditas obras de ampliação (através de candidaturas ao Procoop, ao PARES e ao PRR), mas “ora as regras mudam de uma semana para a outra; ora não existem verbas suficientes e simplesmente vão andando nestas ilusões permanentes que não levam a lado nenhum”, desabafa Diana Barbosa.

Apesar da Associação para o Desenvolvimento da Portela albergar diariamente 21 utentes e apoiar 8 em domicílio, não tem qualquer tipo de protocolo com a Segurança Social, porém a entidade exige da instituição todas as regras para o espaço receber os utentes, tornando o orçamento mensal cada vez mais apertado para responder a todas as solicitações.

“Percebemos desde o final do ano de 2022 que as famílias começam a dar sinais de dificuldade, não só pelos pedidos de cabazes alimentares, mas com pedidos para receberem os seus seniores para poderem ir trabalhar e estes estarem em segurança. É que muitas mulheres, em particular, não trabalham neste meio rural porque são cuidadores de filhos e pais”, explica a presidente da instituição.

Assim, a instituição conta já com uma lista de espera de 15 seniores da freguesia das Termas de S. Vicente e freguesias envolventes aos quais não pode apoiar por falta de “espaço e financiamento”.

Para a Presidente, Sandra Pereira, “as noites não são todas iguais, se há umas em que a esperança nos deixa dormir, outras o aperto e a gestão do dinheiro que não há, faz-nos não dormir”. Apesar disso, garante que as contas “estão certas e não há dívidas na casa”.

Se atualmente a inflação veio piorar a gestão diária, certo é que a pandemia “trouxe-nos um rombo nas nossas economias. A instituição esteve fechada muitos meses, mas os nossos funcionários receberam sempre. O dinheiro que tínhamos e que agora nos fazia falta para gerir melhor a inflação foi gasto para garantir o sustento dos nossos colaboradores. Tínhamos essa obrigação para com eles”, justificou.

Se o projeto “Um Sonho” não avançar, vai fechar-se um ciclo de 10 anos de “trabalho e dedicação a esta comunidade e o que mais nos preocupa são os nossos idosos. Para onde eles vão?”, interrogam-se presidente e diretora técnica da Associação para o Desenvolvimento da Portela.

Segundo Daniela Oliveira, vereadora com o Pelouro da Ação Social “a Associação para o Desenvolvimento da Portela nunca irá fechar. Cá estaremos para apoiar e trabalhar em conjunto para o trabalho continuar”.

Literalmente a instituição dependerá de “Um Sonho” para ter futuro.